Aos 18 anos, piloto inglês estreou na Fórmula 1 pela Ferrari no GP da Arábia Saudita de 2024
O piloto mais jovem a estrear pela Ferrari na Fórmula 1, aos 18 anos e 305 dias. O mais jovem britânico a disputar uma corrida na maior categoria do automobilismo mundial. O mais jovem a marcar pontos em uma estreia na F1, com o sétimo lugar no GP da Arábia Saudita. Não é exagero dizer que o inglês Oliver Bearman, formado pela Academia de Pilotos da Ferrari, fez história no último fim de semana no Jeddah Corniche Circuit, quando assumiu um dos carros da tradicional equipe italiana em substituição a Carlos Sainz, afastado com uma apendicite. E não decepcionou: cometeu poucos erros na classificação e estabeleceu um ritmo de corrida constante, segurando a pressão dos compatriotas Lando Norris e Lewis Hamilton, que contavam com pneus macios mais novos, na parte final da prova.
O mais impressionante foi a capacidade de adaptação do jovem inglês. Bearman começou o fim de semana em Jeddah disputando a etapa da Fórmula 2. Fez, inclusive, a pole position para a Feature Race, a corrida principal da etapa da categoria de base. O problema de saúde de Sainz fez com que ele fosse chamado às pressas, sem tempo sequer para uma melhor preparação. Ainda assim, o inglês correspondeu às expectativas.
– Foi um sonho de infância que se tornou realidade: estrear em um carro da Ferrari. Quando recebi a ligação de que estaria na F1, foi uma grande surpresa e fiquei muito feliz. Claro, não nas circunstâncias nas quais queria fazer minha estreia, através do infortúnio de outra pessoa, mas ainda assim foi uma grande oportunidade – disse Oliver Bearman.
Confira a íntegra da entrevista em vídeo:
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– Qual a avaliação de seu primeiro fim de semana como titular na F1?
Oliver Bearman: Estamos de volta a Maranello após minha primeira corrida de Fórmula 1. Estou me sentindo recuperado, porque alguns dias depois estava um pouco dolorido. Foi uma corrida muito difícil fisicamente. Fiquei muito feliz no geral com meu desempenho. Foram circunstâncias muito difíceis e extremas. Jeddah é uma das pistas mais difíceis do calendário, mas aproveitei cada momento e foi uma experiência fantástica.
– Como foi descobrir que você pilotaria pela Ferrari no fim de semana? E durante a classificação e a corrida?
Na verdade, estava almoçando na sexta-feira. Tudo esteve diferente nestes dois primeiros fins de semana. Então, estava almoçando depois de fazer a pole na Fórmula 2, e me preparando para largar em décimo na corrida Sprint, tentando descobrir a melhor maneira de fazer isso. Quando recebi a ligação de que estaria na Fórmula 1, foi uma grande surpresa e fiquei muito feliz. Claro, não nas circunstâncias nas quais queria fazer minha estreia, através do infortúnio de outra pessoa, mas ainda assim foi uma grande oportunidade. Apenas tentei entrar no ritmo o mais rápido possível. Conseguimos fazer uma corrida curta só para simular o desgaste dos pneus e para que eu pudesse dar mais algumas voltas. E, então, fui direto para a classificação, indo às cegas quanto à temperatura e à aderência da pista. Fiquei desapontado por não estar no Q3, mas, de qualquer forma, acho que foi um desempenho decente. Para o sábado, sinto que consegui me preparar muito melhor. Tivemos um dia inteiro para fazer isso, em vez de apenas algumas horas de antecedência. E sim, no geral, fiquei muito feliz com meu desempenho na corrida.
– Você é o mais jovem britânico a ter estreado na Fórmula 1 e fez isso com uma Ferrari. Como você se sente?
Foi um sonho de infância que se tornou realidade: fazer minha estreia em um carro da Ferrari. É uma conquista incrível e estou muito orgulhoso. E também me tornar o britânico mais jovem é uma conquista e tanto. Acho também que fui o terceiro piloto mais jovem de todos os tempos. Estou no pódio.
Oliver Bearman acelera no circuito de rua de Jeddah, em sua estreia na Fórmula 1 — Foto: Paul Vaicle/Scuderia Ferrari
– Algo te surpreendeu no fim de semana com a Ferrari?
Acho que o que mais me surpreendeu em um fim de semana de Fórmula 1 foi a quantidade de administração necessária. Você sabe, há muitas atividades de mídia, muito mais conhecimento técnico do que temos na Fórmula 2. Então, para uma corrida às 20h, já estava na pista para me preparar na hora do almoço. Então os dias são muito, muito longos, cheios de trabalho duro. E sim, isso foi uma surpresa feliz.
Qual foi a coisa mais difícil para se adaptar? E a mais fácil?
Acho que realizar os procedimentos foi bem mais fácil do que eu esperava, principalmente porque os praticamos tantas vezes no simulador. Isso é uma grande prova de qualidade do simulador da Ferrari porque consegui pular direto no carro e consegui fazer todas as mudanças de switch que me pediram com bastante facilidade, para você saber. Mostra que o trabalho árduo na fábrica está valendo a pena. O lado difícil foi, claro, o físico. Esperava que fosse difícil porque já na Fórmula 2 era uma pista complicada, então saltando para a Fórmula 1 fiquei um pouco assustado. Consegui superar o desafio, mas foi um grande desafio.
– O quão útil foi o trabalho no simulador e o programa de preparação com a Ferrari nos últimos meses?
Foi muito útil, como disse, o uso do simulador. Em primeiro lugar, preparei-me bastante para Jeddah, para tentar ajudar o time. Então, quando eu realmente tive de entrar na pista, foi quase uma transição perfeita. Estava atualizado e também tendo pilotado a Ferrari de 2022 em Barcelona e o carro de 2021 em Fiorano. Consegui acelerar rapidamente porque a velocidade não foi uma surpresa. Acho que se fosse minha primeira vez em um carro de Fórmula 1, teria tido um pouco mais de trabalho. Então, sim, o trabalho duro nos bastidores foi recompensado.
– Você é jovem, mas já tem experiência sobre como um fim de semana de Fórmula 1 funciona, desde quando você competiu na Fórmula 3 e agora na Fórmula 2. O quão útil para um piloto ter as categorias de base correndo nas mesmas pistas da F1?
As categorias de base me prepararam muito bem para entrar na Fórmula 1. Já estive em todas as pistas, então foi uma coisa a menos para aprender. Acho que se fosse em uma nova pista e com um novo carro tudo teria sido um pouco mais difícil. Agora, isso mostra que os melhores da Fórmula 2 e Fórmula 3 podem entrar na F1 e serem competitivos porque o nível é muito alto nas categorias de base e você sabe que todas ensinam as coisas úteis. É uma prova para a F2 e a F3 de que fui capaz de entrar direto na F1 e ser competitivo.
Oliver Bearman conversa com os engenheiros nos boxes de Jeddah, em sua estreia na Fórmula 1 — Foto: Paul Vaicle/Scuderia Ferrari
– O quão exigente foi a corrida fisicamente?
A corrida foi bastante exigente fisicamente, não vou mentir. Tem algumas fotos do meu pescoço durante a corrida que mostram que tive dificuldades. Diria que estava pronto para a Fórmula 1, mas Jeddah é outro passo, é uma pista difícil. É uma pista com as forças G laterais mais altas da temporada. Você passa muito tempo nas curvas e até as retas têm pequenas curvas. Isto significa que em praticamente toda a corrida, em todas as 50 voltas, você está lutando com o pescoço. Foi difícil, principalmente quando saí do carro, mas a adrenalina me ajudou a chegar ao fim da corrida com bastante facilidade. Só depois senti dores.
– Você participou das reuniões com Charles Leclerc, enquanto Carlos Sainz assistiu à corrida dos boxes. O que você aprendeu com eles? Eles te deram algum conselho?
Foi ótimo trabalhar com pilotos de Fórmula 1. Eu ainda não me considero um piloto de F1 apesar de ter feito uma corrida. Ainda estou na Fórmula 2 e é ótimo poder ver o nível em que eles atuam e trabalham. É algo que me esforço para poder fazer e foi ótimo receber as dicas do Charles durante o fim de semana, especialmente na qualificação. Antes e durante a corrida, Carlos estava me guiando através do que viu nos dados e estava passando isso para o meu engenheiro. Foi fantástico e realmente ajudou a acelerar o meu processo de aprendizagem. Aprendi muito mais rápido por causa deles. Foi incrível.
Oliver Bearman recebe um abraço de Lewis Hamilton após o GP da Arábia Saudita — Foto: Reprodução/F1
– Qual foi a mensagem mais legal que você recebeu antes ou depois da corrida?
Recebi muitos parabéns e também mensagens de boa sorte antes da corrida. A minha favorita veio de Sebastian Vettel. Sou um grande fã dele desde meu início e sim, eu torcia por Seb até ele se aposentar. Então receber uma mensagem dele foi muito especial. Saber que ele estava me observando me colocou um pouco de pressão, mas foi uma pressão legal. Recebi também do Stefano Domenicali. Ele me enviou uma mensagem muito legal depois da corrida, que me deixou muito feliz. E também recebi um abraço de Lewis (Hamilton) após a corrida. Foi legal que ele tenha reconhecido a corrida que fiz. Fiquei muito orgulhoso desse momento.
– Em retrospectiva, o que você acha que poderia ter feito melhor ou de forma diferente?
Olhando de fora, foi um fim de semana bem-sucedido, mas sou perfeccionista. Cometi muitos erros pelos quais não me culpo. Obviamente eu meio que esperava cometer alguns erros, mas por exemplo eu deveria ter chegado ao Q3, o carro era rápido o suficiente para isso, foi ruim. Foi um Q2 muito complicado, mas não consegui avançar por um detalhe, então foi uma pena. Mas, você sabe, são coisas que eu acertarei na próxima vez. Espero que haja uma próxima vez. E, durante a corrida, perdi muito tempo tentando ultrapassar carros mais lentos. Não usei minha bateria da maneira mais eficiente porque era algo novo para mim. Nunca precisei usar o ERS de forma ofensiva ou defensiva. Então foi a primeira vez para mim e talvez não tenha sido o melhor nisso, especialmente com Nico (Hulkenberg), que fez um ótimo trabalho me mantendo atrás. Poderia até ter terminado uma posição acima se fosse um pouco mais eficiente nas ultrapassagens.
Fonte: ge.globo